Thursday, December 30, 2004

A mais louca corrida


Começa sempre com o novo ano uma das mais belas provas desportivas alguma vez realizadas. Desde 1986 que o sonho de Sabine se concretiza, e de facto é de um sonho que se trata, pois nos dias de hoje conseguir organizar uma prova assim é um oásis no deserto do desporto automóvel. A prova é a mais dura, a mais longa, a mais difícil, a que exige mais do piloto, do navegador e da organização. As viaturas são as mais variadas, confirmando que ao fim de 15 anos ainda não há a fórmula perfeita, deixando à imaginação dos engenheiros todo o tipo de devaneios, motor à frente, atrás, central, duas rodas motrizes, tracção integral, a gasóleo ou gasolina, 4 cilindros em linha, 5, 6 ou 8 em “V”, tanto faz. Tudo isto traz dividendos suscitando interesse em centenas de pilotos privados, algumas equipas de fábrica e essencialmente no público, que à distância segue a prova tornando o Dakar no evento automobilístico mais visto a seguir à Fórmula 1. Fazer o impossível é tentar comparar estas estas duas modalidades, ao invés da F1 o Dakar tem competição a sério, apesar dos carros oficiais, os pilotos ainda fazem a diferença, mesmo com os milhares de quilómetros que a prova tem, a geral discute-se ao minuto e muitas vezes ao segundo, aqui não há favas contadas, é impossível prever tudo e não há margem para indecisões ou erros. Quem não se lembra de "Nani" Roma a cair quando era lider, a chorar e exausto, incapaz de encontrar o caminho. Que dizer do atascanço de Schlesser já na praia de Dakar, a poucos quilómetros do final, ou do roubo do Peugeot de Vatanen, em pleno deserto durante a noite, impossibilitando o piloto de partir no dia seguinte... são muitas as histórias que fazem desta prova mitica “a” derradeira corrida automóvel.

Wednesday, December 29, 2004

Aleluia


Numa altura em que os carros já não são carros, são monovolumes, MPVs e SUVs, os desportivos já não são desportivos, são Smart Roadster e GT TDIs, aparecem de quando a quando automóveis que enchem as medidas a quem vê neles algo mais do que um meio de transporte. O marasmo quebra-se, normalmente, com os restylings do 911 ou com os desportivos da Ferrari.
Existem, porém marcas, que fruto de algum devaneio deixam escapar, a espaços, automóveis a sério como é o caso do BMW M6.
Não é um monovolume, nem tem sete lugares, nem porta-copos, nem frigorífico, não tem barras no tejadilho, não tem DVD nem Playstation e não é a gasóleo. É muito mais curriqueiro, mais banal, só tem 500 cv, motor V10 a gasolina, duas portas, etc...e é lindo de morrer.
Qual é o mal de ter um design de cair para o lado, ser muito rápido e ser construído a pensar no prazer do condutor?
Apesar desta doença de carro estar acessível apenas a muitos poucos, não percebo por que é que não se alastra a outras marcas, outros segmentos outras gamas, como que de uma epidemia se tratásse, à semelhança da enfermidade contagiosa que se abateu sobre o parque automóvel actual, em que todos só têm um volume e andam a gasóleo.
Só gostava de poder escolher um carro em que não precisasse de ter 70 anos ou o Euromilhões para o poder comprar e não tivesse como principal característica a magnífica capacidade de fazer piqueniques com a familia e os vizinhos todos lá dentro enquanto vou pela Auto-estrada a gastar 3L aos 100 com um filtro anti-partículas.

Monday, December 20, 2004

Slot racer - o automobilismo de bolso



“Em que classe corres?
Eu corro nos clássicos, e tu?
Eu corro nos turismos, mas o ano passado fiz o troféu Porche.”

Este tipo de diálogo pode ser ouvido à volta de qualquer pista de Slot Race, por esse país fora. É um velho desporto, novamente na moda, onde miúdos mas maioritariamente graúdos se deliciam de gatilho nas mãos fazendo evoluir os seus bólides, pelas calhas electrificadas de autódromos constrídos na garagem ou na sala de jantar. O detalhe das viaturas é enorme, Porches 969, Ford GT40 ou BMW 635 voltam a competir, com requintes técnicos incríveis, chassis, pneus e motores magistralmente afinados por preparadores de mala de costura na mão.
Os carros são à escala mas a paixão é a mesma das corridas a sério.

Wednesday, December 15, 2004

Rossi limpa tudo


Valentino Rossi participou no passado fim-de-semana no Bolonha Motorshow, utilizando um Toyota Corolla WRC. A foto regista o momento em que ao tentar fazer o chamado “rapa bico”, no ataque à curva, acabou num “come bico” da barreira de pneus. É caso para dizer que Rossi limpa tudo, até as escapatórias.

Sunday, December 12, 2004

Rossi - limpa mais branco


Rossi apresentou o capacete ironizando o episódio da desclasificação que sofreu depois dos seus mecânicos terem limpo a zona de partida no GP do Dubai.
No fundo, a mensagem que a decoração transmite é que a fórmula Rossi é a mais eficaz para limpar títulos e campeonatos do mundo.

Wednesday, December 08, 2004

Dança das cadeiras


A versão de 2005 da dança das cadeiras é igual à de 2004, 2003, 2002... por aí fora. Só as marcas e as viaturas mudam de uns anos para os outros porque os pilotos são os mesmos da última década, excepção e honras feitas à Citroen quando apostou em Armindo Araújo.
Não que os pilotos mais experientes não tenham o seu lugar e não dêem o seu contibuto, mas que desporto será esse que não se renova, que não cria novos ídolos, novos campeões. A culpa não é só das marcas e das equipas, pois estas vêm com agrado os preciosos patrocínios dos pilotos, e claro que os pilotos consagrados são os que conseguem os maiores apoios.
Cabe assim, à entidade federativa regular a situação não só através de efectivas competições de promoção, como dar continuidade às mesmas apoiando directamente os pilotos permitindo-lhes o primeiro passo nos campeonatos principais, à semelhança do que faz a federação francesa ao promover pilotos no WRC, dando origem a impressionantes desempenhos como o de Sarrazin no rali da Catalunha deste ano.

Monday, December 06, 2004

Sunday, December 05, 2004

O pendura


É ao lado do volante, com o caderno nas mãos que muitos pilotos frustrados conseguem chegar próximo do sonho de infância, o desporto automóvel e os ralis.
Co-piloto ou também conhecido por navegador, pendura, lastro, o que vai no lugar do morto, representa a, tantas vezes, ingrata função de navegar o piloto durante uma prova de rali. Navegar significa orientar o piloto através do itinerário de prova, na gíria, “cantar” as notas que antecipam a descrição da estrada, alertam perigos, desenham trajetórias e impõem ritmo e velocidade. Cada equipa utiliza o seu código de notas estabelecendo uma comunicação muito própria, alheia e estranha ao público em geral, menos conhecedor destas andanças. Existem pilotos que gostam de ouvir as notas em tom elevado e com algum ritmo, mantendo uma certa cadência, exigindo no entanto uma maior cumplicidade entre piloto e navegador, num estilo observável em equipas rotinadas e com muitos quilómetros em conjunto. Outros há, que preferem um tom mais pausado, quase relaxado, num estilo mais universal, menos personalizado, acessível desde o início, de aprendizagem rápida.
Das boas equipas diz-se que o piloto é cego e guia só de ouvido, ao som das notas do seu navegador, servindo este de catalisador ao virtuosismo do primeiro, quantas vezes motivando para um andamento mais rápido e outras abrandando, servindo de contrapeso à impetuosidade do condutor.
Ao co-piloto, exige-se que mantenha uma concentração inabalável, que não se atrase nem se adiante, com uma dicção de locutor e bom senso de ancião conduza o piloto até à vitória. Quando esta acontece, de forma ingrata, o mérito pertence só a quem leva o volante, parecendo que vai sozinho dentro do carro, como se por milagre pudesse conhecer todas as curvas de todos os ralis, conduzindo com a máxima certeza e confiança, como se do caminho de casa se tratasse. Em prova, ambos conhecem as suas indispensáveis funções e enquanto o piloto é destreza e virtuosismo, ao qual tudo se aplaude e se perdoa, o navegador é a constante angústia do erro, ao qual não passará sem o habitual adjectivo de “lastro” ou sem o comentário “…só vais a fazer peso”, de nada valendo as intermináveis horas a passar cadernos de notas ou o trabalho invisível, da burocracia, da organização dos meios, marcações de hotel, inscrições, verificações, horários, ..., enfim tudo pela paixão pelos ralis.