Barcelona-Dakar, foi assim que se denominou este ano a mais dura e bela prova do mundo. Para a maioria, aficionados ou não, continua a ser o Paris-Dakar, a única diferença é que este ano saíu das Ramblas e não da torre Eifel, mas isso pouco importa, ao que ninguém fica indiferente é ao conteúdo de uma prova destas, à competição, à variedade de cenários por onde passa, à beleza das imagens que proporciona. É hoje a seguir à Fórmula 1, a prova de desporto automóvel que mais audiências tem, apesar de que no primeiro caso estamos a falar de um campeonato com 16 provas e no segundo de uma única prova, que fascina durante quinze dias.
É habitual termos vários representantes Lusos na prova Africana, infelizmente este ano, apenas nos automóveis, mas logo com o regresso do Campeão do Mundo, Carlos Sousa e com outras quatro equipas. Mais quatro equipas, porque apesar existir mais uma equipa inscrita, liderada por Francisco Inocêncio, nem sequer chegou a partir, capitulando devido a problemas mecânicos. Mau demais de facto, inacreditável como é que ainda pode acontecer, mas é um pouco a imagem do país e deve servir como exemplo para o maior profissionalismo necessário.
Profissionais podemos chamar a Carlos Sousa, Paulo Marques, Bernardo Vilar, Ricardo Leal dos Santos e Elizabete Jacinto, pelas boas prestações manifestadas na mítica prova. De realçar o sétimo lugar de Carlos Sousa, que podia ser quarto, não fosse um daqueles azares que só acontecem a quem vai numa equipa privada, como foi o caso de um rolamento gripado. De qualquer das maneiras no nosso Carlos soube adequar o seu andamento às capacidades do seu Nissan, bem inferior ao Mitsubishi que conduzia anteriormente, e devagarinho lá levou a àgua ao seu moinho, sem exageros nem abusos da mecânica, parabéns Sousa.
Não posso deixar de falar dos vencedores, principalmente de Peterhansel, que após ter ganho seis vezes de moto, conquistou este ano o segundo troféu nas quatro rodas. O Francês quando comparado com os seus adversários, bem pode ser considerado um extraterrestre, pois as diferenças são do outro mundo, brindando o resto do pelotão com uma exibição imaculada de erros, mantendo uma tenacidade e velocidade constante, sagrando-se mais uma vez, o rei do deserto.
Nas motos, Cyril Després, ganhou bem, muito ajudado pela sua equipa, mas com uma vitória justa e plena de mérito, que fica apenas ensombrada por motivos alheios que marcaram a prova este ano. As quatro mortes registadas ensombraram as areias do deserto, sendo a mais marcante a da “Raposa do Deserto”, Fabrizio Meoni, que aos 47 anos, pretendia acabar a sua carreira na prova que já tinha ganho duas vezes, e que triste maneira de abandonar uma vida de corridas. Certamente muito terá que mudar no regulamento das duas rodas, no próximo ano, por forma a limitar o andamento e performance estonteantes que se registaram este ano, tornando-se as próprias montadas um perigo para os pilotos.Fica uma palavra final a todos os que conseguiram chegar às margens do lago rosa, em Dakar, porque só esse facto já os transforma em heróis dos tempos modernos.