Não é raro, ainda nos dias de hoje, ouvir dizer de quem compra um certo tipo de desportivo, "...é como casar com um gaja boa, sabendo de antemão que se vai ter problemas". Segundo os próprios donos é algo que acontece com frequência, compra-se um belo desportivo, carregadinho de cavalos, com velocidades máximas assustadoras e que fazem dos zero aos cem, uma vez. São carros rápidos mas caprichosos, que aquecem durante o trânsito, que necessitam de uma embraiagem nova ao segundo arranque a fundo e que se vêem com frequência em cima do reboque do ACP, ou dentro de garagens, com um utilitário a gasóleo como companhia e com uns cartões de protecção contra as manchas de óleo no chão.
"Um Porsche é sempre um Porsche, não interessa a idade" - ouve-se com frequência, mas certamente que quem começou com este "dizer", o fez com o 911 no pensamento. O 911 é a antítese de tudo o que se tem garantido num desportivo. Começando pelo motor, montado no sítio errado, já agora com o formato errado(quem é que se lembrou de um motor horizontal?), com quatro lugares, apesar de ainda não terem descoberto nenhuma espécie de mamífero que caiba naqueles dois lugares traseiros, com uma altura ao solo que permite circular em Portugal, com intervalos de manutenção de 15 000 kms, com um ar condicionado que funciona e tudo mas mesmo tudo com a fiabilidade de um Toyota.
Deve ser difícil passar por um 911 bem conduzido, mesmo mal conduzido, não existe nada tão rápido que depois de umas voltas no "track-day" do Estoril, não sirva para fazer umas compras no Cascaishopping e se tiver bom tempo ainda dê para transportar a prancha de surf até à praia e estacionar em cima do passeio. É todo este o encanto do 911, é ver o carro que acabou de ganhar as 24 horas de Le Mans, a entrar no "Drive-in" do McDonalds. É poder sonhar em ter um, sem ter que reasfaltar o caminho para casa, sem ter que dar os miúdos para adopção, sem ter que ser sócio dos reboques do ACP ou da Galp Energia, sem ter que pensar como é que o vamos vender, pois o 911 dura para sempre.