Julgo que é difícil imaginar uma melhor inauguração para o novo autódromo de Portimão, do que uma prova do Mundial de Superbikes.
Desde que vi, em 88, uma Bimota a discutir os primeiros lugares com a toda-poderosa Honda RC30, fiquei um acérrimo adepto deste campeonato de motos quase, quase iguais às que saíam dos stands.
Nos últimos 20 anos temos vindo a ver os principais campeonatos do desporto motorizado a decrescerem em termos de espectáculo e competitividade, enquanto que o "parente pobre" do motociclismo mundial ganhou espectadores, participantes e forneceu corridas de antologia, numa forma absolutamente meteórica. A única razão para não ser já o principal campeonato de motos a nível mundial, é o facto do Rossi ainda correr nas MotoGP.
Para além do equilíbrio regulamentar que permite corridas sempre renhidas, um dos principais factores para o sucesso das SBK, é o número de equipas privadas presentes. Estas equipas não aparecem aos magotes puramente por se tratar de um campeonato acessível do ponto de vista financeiro, é também acessível do ponto de vista técnico. As motos ao derivarem de série, têm uma preparação bastante limitada, que não dá aso a grandes manóbras técnicas, principalmente de electrónica, o que evita que através de grandes orçamentos se encontrem soluções que diferenciem os ricos dos lentos.
Um exemplo de como isto sucede da pior forma encontra-se no WRC, onde por mais privados que andem com Fords ou Citroens, ganham sempre as equipas oficiais. Ainda que o carro oficial tenha sempre uma especificação acima do carro privado, as diferenças reflectidas no cronómetro são sempre muito maiores do que isso poderia supor, essencialmente devido ao facto de que não conseguem explorar na totalidade as capacidades da viatura. Não que sejam mais burros que os outros, mas porque não têm possibilidade de fazer testes infinitos para afinarem diferenciais electrónicos dignos da NASA, por forma a que estes "casem" com a miríade de misturas de borracha que se ensaiaram durante milhares de milhões de kms. Nas SBK se uma tecnologia não pode ser dominada por todos ou se tal só pode acontecer à custa de um maior orçamento, então essa tecnologia é abandonada.
Para além de priveligiar o equilíbrio entre motos e equipas, a regulamentação técnica também tem grande influência no espectáculo proporcionado pela condução. Por exemplo, na questão dos travões, os discos de carbono estão completamente banidos, sendo usados materiais idênticos aos que vêmos todos os dias e as evoluções quando aparecem nos autódromos são imediatamente reflectidas nas motos de série. Porque razão é que os F1 e as MotoGP continuam a usar travões de carbono, que nunca terão qualquer aplicação prática e para além disso ainda reduzem significativamente o espectáculo, pois transformam as travagens num acto curriqueiro ao alcance de todos os pilotos, sejam eles bons, maus ou sofríveis.
Mesmo estando o título já definido, mais um a favor do Bayliss na sua eterna Ducati, certamente que no Algarve haverá duas grandes corridas, com toda a gente de faca nos dentes a disputar cada curva como se fosse a última.