O aspirador, a Bimby, a lavadora e o George Clooney
Não foram tão poucos como isso os quilómetros que fiz a bordo de um Mercedes E63 AMG Station, de um Mercedes SLS, de um BMW X6 Hybrid e de um Mini Countryman.
O SLS AMG é impressionante, não só pela aceleração, mas muito mais pela forma soberba como trava. Estável, seguro, irrepreensível em desaceleração, característica muito apreciada por quem não tem coração para máquinas que ultrapassam a marca dos 300km/h. O carro é bonito, apesar de eu não ser grande fã de revivalismos, é uma máquina com um certo "appeal", principalmente quando se abrem as portas. Lá dentro surge a maior desilusão. Um super-carro deve levar-nos de volta para quanto tínhamos 7 anos. O SLS utiliza tudo o que são manípulos e botões de coisas como o Classe A. Esperava algo mais especial de um veículo desta estirpe. Tudo o resto foi soberbo. Trava, acelera e curva pra caraças. É até confortável, dentro do género, mas ficará sempre na minha memória por ser um autêntico aspirador de olhares e quiçá de miúdas com propensão para jogadores de futebol. Será esse o destino deste carro, para não dizer que é um dos propósitos da sua génese. Condutores pouco afoitos, que não querem mais do que dar nas vistas, muitas das vezes na crise de meia-idade, por forma a aspirarem alguém na casa dos vinte anos. Ah, quase me esquecia, a caixa foi tirada de um táxi.
Julgo que grande parte do motor do E63 AMG é partilhada com o SLS, pelo menos a sonoridade e os ráteres em desaceleração são semelhantes. Tirando isso, tudo o resto era quase normal, expectável. OK, a potência impressiona, mas a massa a deslocar é tão grande que não conseguimos deixar de sentir que aquilo tudo é um pouco exagerado. A carrinha tinha tudo o que se possa pedir num automóvel dos nossos dias, até o apoio dos bancos se adaptava consoante os Gs laterais. Tinha botões e gadgets que não cheguei a perceber para que é que serviam, mas no final do dia, tudo se resumia ao binário devastador do V8 e ao barulho do trovão que este emitia. Serviu para fazer uns burnouts e muitos donuts, passados 15 minutos já chega. Tanta coisa para tão pouco. Mais ou menos como dar os tais mil e tal euros pela Bimby para depois fazer granizados de limão e umas sopas para o bebé.
O BMW X6 Hybrid é uma viatura que ainda hoje não entendo. O X6 normal já é uma coisa estranha, mas este era ainda pior. Nada mais que um V8 absolutamente banal (parecia tirado de um Escalade ou qualquer outro SUV pachorrento das estrelas de hip-hop) associado a um motor eléctrico com a potência de um leitor de cassetes. Não percebi nada. Fez-me lembrar aquelas lavadoras de pressão caríssimas, que deitam água como as outras e que assim como estas, não evitam que tenhamos que esfregar o carro à mão.
Bem, para o final ficou aquela espécie de Mini a quem chamaram Coutryman, homem do campo. Não vale a pena escrever nada acerca deste aborto automóvel. De Mini só tem mesmo o nome, tudo resto é um absurdo, tudo. Não serve para nada. Quem inventou as máquinas de café de pastilha foi a Nespresso. Podemos comprar uma série de máquinas que se dizem também de pastilha, mas no final continuaremos a suspirar pelo George Clooney. Com o Coutryman é a mesma coisa, até pode ter o símbolo da Mini, mas na realidade não é o Cooper S.
Não sendo derrotista, apenas posso dizer que agora mais do que nunca, há muitos carros que não fazem grande sentido, sendo apenas fruto da mente das equipas de marketing, destinados a um público que cada vez menos compra aquilo que precisa. Mesmo o SLS, com tudo o que tem de estonteante, pareceu cru e inacabado, ou então e muito provavelmente, destina-se a um público que não privilegia a excelência do automóvel. Se agora estivesse comprador de um super-carro, ficava-me pelo Aston Martin Vantage em que me sentei esta semana. Pode não ser a coisa mais rápida à face da terra, mas enche todas as medidas do tipo de condutor para o qual foi desenhado. Sem peneiras, apenas soberbo. Mais ou menos como um espremedor de citrinos do Philippe Starck. Perfeito.