Adeus às camisolas de lã.
Hesitei, era colorido e berrante, feio. Lá acedi, mais por gentileza do que por acreditar nas mais valias daquela peça de roupa com cores de parapente.
Incrível, andei o resto do dia quente e confortável. Sempre que vinha mais uma chuvinha batida pelo vento, pouco me importava, até lançava sorrateiramente um sorriso aos "velhadas" das camisolas de lã monocromáticas.
Pouco tempo depois, outro amigo, ligado às coisas da BMW ofereceu-me uma volta na nova K1600GT de seis cilindros. Coisa impensável; há muitos anos que mantenho uma promessa velada de nunca me sentar numa moto BMW. Para além de um Tupperware com duas rodas não ter qualquer apelo em mim, o motociclisma BMW é, regra geral, um idiota na estrada. São daqueles que se julgam numa classe à parte, que só se cumprimentam entre eles e que nos olham como se soubessem algo mais que todos os outros. Eu não queria ser confundido com essa "gente" e para mim, seis cilindros só nos carros.
O bom do amigo não desistiu, apesar de toda a minha argumentação preconceituosa. Numa quarta-feira à tarde deixou-me uma S1000RR, para ser entregue na sexta-feira ou antes, caso eu não conseguisse vencer os meus próprios anticorpos.
No início estranhei, depois entranhou-se, não levou mais de trinta minutos. Só a entreguei cinco depósitos depois, no Sábado, bem no final do dia.
Só mesmo por aquele design assimétrico se distingue de qualquer outra japonesa, não deve muito à beleza, mas anda de uma forma... absolutamente estonteante, muito longe de qualquer coisa que alguma vez tenha conduzido.
O motor é um assombro em todos os seus 200Cvs, o quadro rígido pra caraças, as suspensões firmes e confortáveis, os travões inesgotáveis, mas até aqui tudo como numa moto de topo. Onde tudo passa à estratosfera é no conjunto de coisas como o controlo de tracção, a embraiagem deslizante, o ABS, os vários modos seleccionáveis de gestão do motor, o sistema anti-cavalinhos e na melhor invenção de sempre, o Quick-shift. Tanta electrónica e tanto sistema fazem com que o acto de condução de um monstro de 200cvs se torne em algo perfeitamente fluente e natural. Tanto sistema fornece tanta confiança, que após trinta minutos já estamos a curvar como o Rossi, a entrar na curva penduradíssimos nos travões e a rodar punho ainda com o joelho imaginariamente a roçar no asfalto.
A S1000R é, tal como tinha lido em toda a imprensa especializada, um marco no mundo das motos. Ficará na história ao lado de coisas como a CB750, a GSXR750 ou a CBR900, ao lado de motos que viraram uma página, que tornaram tudo o resto obsoleto.
A experiência com a S1000R mudou todos os meus dogmas, tal qual como aquela camisola cor de gelado tutti-fruti, depois dela as camisolas de lã nunca mais terão o mesmo encanto para mim.