O mais triste pódio de sempre
É claro que se fosse fã do Hamilton, da Mercedes ou mesmo se tivesse responsabilidades na equipa, diria sempre que as ordens que o Ross Brawn deu ao Rosberg, para nem sequer ousar ultrapassar o Hamilton, foram o mais correcto a fazer. Como já aqui escrevi antes, se tivesse alguma responsabilidade numa equipa de F1, haveria sempre um primeiro piloto e o outro teria que preterir sempre em favor do primeiro. Pura e simplesmente porque essa é a melhor estratégia para se ganharem campeonatos; que se lixe o desporto, a F1 é uma competição e os patrocinadores pagam para ver resultados.
Como espectador, prefiro sempre ver dois colegas de equipa degladiarem-se em pista - excepção feita ao Alonso e ao Massa - mesmo que isso signifique o fim da corrida para ambos.
Quanto à fraca obediência de Vettel, quanto à deslealdade para com um Webber que de repente ficou muito certinho, também observei tal desvio de carácter com agrado. O desporto automóvel tem essa particularidade fantástica, trazer ao de cima o melhor, mas muito mais, o pior de cada um.
Agora sabemos que o Vettel fará qualquer coisa para ganhar, passará por cima do colega, do chefe de equipa, da própria equipa se necessário... E depois? O mundo aclamou o Schumi durante uma década e ao pé dele o Vettel é um menino.
Também sabemos que o Webber consegue bancar a vítima, o sonso, a virgem ofendida; que o Rosberg será sempre um manso, e mansos não ganham campeonatos; que a Mercedes tem gente, a gerir a sua equipa, capaz de lhe dar um campeonato - com excepção do idiota do Lauda.
Mas para mim, mais importante que tudo, foi ficarmos todos a saber que, apesar de ser muitas vezes a "vaca louca" da corrida, de entrar nas boxes de outras equipas que não a sua, que apesar de ser dos mais fortes pilotos em corrida de sempre, o Hamilton é um tipo cheio de carácter, um tipo bem formado, o mais parecido com os pilotos da F1 do antigamente, daqueles que gostavam de ganhar, só mesmo com mérito próprio.
(***)
O que a mim me faz confusão é a ordem de equipa da RedBull. O Vettel estava claramente mais rápido do que o Webber e ainda faltavam algumas voltas para o final. O mais correcto teria sido: "deixa passar o Vettel" - é que no final do ano a diferença entre 25 e 18 pontos pode ser decisiva (recorde-se o que aconteceu no ano passado). O Vettel demonstrou que é um campeão e um verdadeiro corredor.
O que mais me surpreende em todos os comentários acerca deste episódio é a mudança de ponto de vista: no tempo do schumacher quando havia indicações para o Barrichelo deixar passar, o cabrão era o schumacher - nem sequer se falava da equipa; agora ninguém (e bem) personaliza estes acontecimentos. Estranho, ou talvez não?
Finalmente gostaria só de corrigir uma afirmação que revela alguma falta de memória: o mundo (excepto alemanha) nunca aclamou Schumacher. Foi sempre o mais detestado de todos os campeões...
Também uma coisa é certa. Não conheço verdadeiros campeões que não sejam/tenham sido polémicos.
Gonçalo