Quase nada
Há muito, acho que desde os oitentas, que nos habituámos a contar o tempo em milésimos de segundo, pelo menos ao Sábado antes de almoço - no Domingo já a "coisa" perde relevância. No entanto, nos últimos cinco a dez anos, contar milésimos ficou mais ainda comum. Hoje em dia as diferenças são mais pequenas e quando em carros semelhantes, os pilotos qualificam-se uns "em cima" dos outros.
Os pilotos têm formações similares, escolas de condução muito idênticas. A telemetria e as ajudas dos engenheiros também estão democratizadas. Os pneus são iguais para toda a gente. Os circuitos são do conhecimento geral, não havendo praticamente estreantes. Depois há também os simuladores, que ajudam a fazer "tábua raza" na vantagem dos mais experientes. É assim natural que andem todos muito mais juntos.
Mas para mim, há uma coisa que faz com que andem mesmo todos muito juntos: os carros actuais. É claro que os Mercedes não dão hipótese a ninguém, mas em carros iguais os pilotos andam todos mais juntos, porque hoje a condução é muito mais fácil e previsível. Já não vou falar das ajudas electrónicas, mas só o facto de ser impossível falhar uma troca de caixa, de não ter que se lidar com a embraiagem, nem no arranque, de quase se poder esmagar o acelerador a meio de cada curva, para além do inacreditável grip dos carros, faz com que a imprevisibilidade, a diferença do humano, desapareça quase por completo.
A diferença faz-se muito no virtuosismo, mas numa qualificação, em que a pressão por fazer a volta perfeita é mais que muita, o erro tem ainda mais preponderância e como hoje é muito difícil de errar, pois o carro não deixa, então a diferença é feita só mesmo por este último. Como os dois Merecedes são iguais, a diferença entre eles deve ser nula ou quase nada. Sete milésimos, são quase nada.