A Saab e o Telemark Ski
Sempre pensei que apareceria alguém à última da hora para salvar a Saab. Parece que não, a marca sueca vai mesmo desaparecer. Mais uma vítima da incompetência americana - a GM comprou a companhia escandinava há uns anos atrás e transformou algo que era rentável então em algo sacrificável hoje em dia.
Só conduzi um Saab uma vez e a única coisa que me ficou na memória foi o facto do canhão de ignição ser junto ao selector de velocidades, entre os bancos, mesmo ao lado do travão de mão. No entanto, mesmo fazendo carros que estiveram sempre tão desajustados para os entusiastas da condução como a Manuela Ferreira Leite estaria num anúncio de produtos de beleza, é com pesar que vejo a extinção desta marca.
Podiam não ser os mais rápidos, nem os mais bonitos, certamente que não eram os mais baratos, mas tinham muitas particularidades que justificavam as quase cem mil unidades que vendiam todos os anos. Eram diferentes, para pessoas que acima de tudo valorizavam essa diferença.
Um Saab lembrava-nos que podemos ter a nossa individualidade, o direito à diferença, de uma forma acessível, prática, racional, sem extravagâncias, numa era em que quase tudo parece feito para ser igual, formatado, standard.
Optar por um Saab é como optar for fazer "Telemark Ski". Não é a modalidade mais prática, nem a mais rápida, nem sequer percebo bem porque é que alguém há-de andar na neve de forma tão idiota, mas sempre que me cruzo com algum destes esquiadores "desviados", não deixo de parar e ficar a admirar o gozo, a satisfação com que ele desliza, orgulhoso também por ser diferente.
Como será quando toda a gente fizer apenas "carving ski"? Quando os lenços papel substituírem os de pano e as gravatas acabarem com os laços. Como será quando já não pudermos escolher um Apple ou uma Leica? Que mundo a preto e branco será esse em que já não vemos homens de pochette, onde já ninguém masca tabaco ou usa relógio de bolso?
Por mais que as marcas generalistas nos tentem convencer do contrário, a verdade é que gostamos de celebrar a nossa individualidade também naquilo que usamos ou consumimos. Com a extinção da Saab essa individualidade ficou um um pouco mais limitada.
Só conduzi um Saab uma vez e a única coisa que me ficou na memória foi o facto do canhão de ignição ser junto ao selector de velocidades, entre os bancos, mesmo ao lado do travão de mão. No entanto, mesmo fazendo carros que estiveram sempre tão desajustados para os entusiastas da condução como a Manuela Ferreira Leite estaria num anúncio de produtos de beleza, é com pesar que vejo a extinção desta marca.
Podiam não ser os mais rápidos, nem os mais bonitos, certamente que não eram os mais baratos, mas tinham muitas particularidades que justificavam as quase cem mil unidades que vendiam todos os anos. Eram diferentes, para pessoas que acima de tudo valorizavam essa diferença.
Um Saab lembrava-nos que podemos ter a nossa individualidade, o direito à diferença, de uma forma acessível, prática, racional, sem extravagâncias, numa era em que quase tudo parece feito para ser igual, formatado, standard.
Optar por um Saab é como optar for fazer "Telemark Ski". Não é a modalidade mais prática, nem a mais rápida, nem sequer percebo bem porque é que alguém há-de andar na neve de forma tão idiota, mas sempre que me cruzo com algum destes esquiadores "desviados", não deixo de parar e ficar a admirar o gozo, a satisfação com que ele desliza, orgulhoso também por ser diferente.
Como será quando toda a gente fizer apenas "carving ski"? Quando os lenços papel substituírem os de pano e as gravatas acabarem com os laços. Como será quando já não pudermos escolher um Apple ou uma Leica? Que mundo a preto e branco será esse em que já não vemos homens de pochette, onde já ninguém masca tabaco ou usa relógio de bolso?
Por mais que as marcas generalistas nos tentem convencer do contrário, a verdade é que gostamos de celebrar a nossa individualidade também naquilo que usamos ou consumimos. Com a extinção da Saab essa individualidade ficou um um pouco mais limitada.
3 comments:
Caro amigo,
Tal como tu, estou triste pelo suposto fim de uma marca mítica como a SAAB. Mas ainda tenho esperança que a Spyker ou outro a consiga adquirir aos incompetentes americanos que não sabem fazer automóveis.
Um abraço.
htttp://conta-rotacoes.blogspot.com
"Born from Jets.
Killed by 'Vettes!"
Carissimo AC,
como sabes sou um desses que disfruta muito de ter um Saab (e curiosamente tambem escrevo este post a partir de um Apple...).
Apesar de o meu ser um carro recente, ainda e' daqueles turbos com tempo de resposta significativo, com uma dimensao de "torque steer" de fazer inveja a um GT Turbo, um para-brisas claramente desenvolvido a partir de avioes onde quanto mais depressa vais debaixo de chuva menos necessitas das escovas limpa-vidros e com um verdadeiro indicador da pressao do turbo no tablier (isto no tempo em que num BMW nem sequer a basica informacao da temperatura da agua do motor, para nao falar da do oleo, e' disponibilizada)...
Isto tudo para alem daquelas "mariquisses" que nao se sabe bem porque estao la' mas que nos fazem sentir falta delas quando nao as temos: o night panel em longas viagens, a chave ao lado do travao de mao, o melhor "cup holder" que alguma vez vi num tablier...
Acho que o grande problema foi quando a Saab deixou de o ser e passaram a ser Vectras "re-stilizados" (o trabalho dos suecos em manter alguma caracteristica de Saab numa base destas e' realmente notavel), quando o 9-5 demorou mais de 14 anos (apesar de ser parte do monstro GM) a ser remodelado...
O cerne da questao foi que em vez de a dona da Saab ser uma organizacao europeia que conseguisse revitalizar a marca numa altura de revivalismo (Mini anyone?), foi a imbecil da GM (que consegui destriur tudo aquilo que tinha e traze-la a um grau de mediocridade infinita) que teve esta joia da coroa.
Ainda bem que a Lotus se safou a tempo das mesmas maos.
So' espero que o Dr. Ulrich Bez (esse mesmo, o da Aston Martin e com toda a escola Porsche) a compre por $1.00 e mostre a toda a gente como se fazem as coisas.
Ja' estou a ver: a AM nas pistas e a Saab nos trocos cronometados...
Lembro-me de ter feito uma viagem à Alemanha num 900 gls do inicio dos anos 80. Ainda não conduzia, era confortável, e um verdadeiro panzer. Cheguei depois a guiar um 900 turbo e não gostei. Muito pesadão e à parte alguns gadgets avançados no tempo, era já anacrónico na altura. Claro que a GM implodiu a SAAB, mas se tivesse continuado independente, não sei se teria sobrevivido...
O Presidente
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