Na semana passada parece que encontraram um sistema solar semelhante ao nosso, com um planeta do mesmo tamanho da Terra e tudo. De imediato, o imaginário colectivo avançou com mil possibilidades, desde seres semelhantes a nós, até a uma civilização mais avançada, que poderíamos visitar, como quem vai visitar os primos no Verão.
Quando vejo publicações como a EVO, a CAR ou semelhantes, pergunto-me de que planeta é que eles nos estarão a escrever? Estas revistas não escrevem sobre Citroens ou Toyotas, escrevem sobre os nossos sonhos de criança. Em que planeta é que um Pagani Zonda Cinque Roadster se cruza com um Koenigegg CCXR, enquanto é ultrapassado por um Veyron Super Sport?
Muitos de vocês dirão que decerto existe uma avenida, algures no planeta Terra, em que o Murciélago LP670-4 SV se encontra num semáforo com o Alfa 8C Competizione, para logo serem seguidos pelo 599 GTO e pelo 911 GT2 RS. Sim, é provável que num qualquer emirado árabe isso aconteça com alguma frequência, mas isso não é o dia-a-dia e nos emirados vive uma ínfima porção dos condutores do planeta. No resto do mundo motorizado, quase todos andam de Dacia Sandero, de Skoda Yeti, ou semelhante. Parece pessimismo, pois em grande parte da Europa já se trocou o Dacia, o Skoda e o Hyundai pelo Audi, Bmw e pelo Mercedes. Mesmo assim continuamos a falar de eunucos motorizados, já que mesmo estes burgueses alemães não passam, na sua esmagadora maioria, de versões assépticas e esterilizadas dos veículos feitos em França, no leste europeu ou no sudoeste asiático.
Não é o chapéu que faz o cozinheiro, nem tão pouco é a chuteira que faz o jogador e de igual forma não é o veículo que dita o condutor, nem o gosto que se tem no manejo da "argola" e dos pedais - retenho na memória momentos gloriosos ao volante de um Skoda Fabia a gasóleo. Não é no entanto, esta certeza de que podemos ser felizes ao volante de um Smart que nos faz deixar de suspirar por um planeta como aquele em que eles escrevem a revista EVO.
Vinha do Algarve e parei na Avenida Luísa Todi na Quinta à noite, para comer um peixinho grelhado ali logo ao lado do fogareiro. Estava ainda a ambientar-me aquela fantástica noite de Verão e a todo um bulício de gente que andava para trás e para a frente à procura de repasto, quando começo a ouvir, ao longe, o trabalhar inconfundível de um V4. Estou incrédulo, não é só um. À minha frente passam bem juntas três Aprilias RSV4 pretas, logo seguidas por duas Agustas 312R, uma vermelha e cinza, outra branca e preta. Enquanto pestanejava de surpresa, ainda vislumbro uma BMW S1000RR branca. Em que planeta estaria? Ali, numa esplanada da Luísa Todi, entre uma cerveja e uma sandes de choco frito, estavam estacionados seis veículos de duas rodas que no mundo das quatro só poderiam ser chamados por Paganis, Lamborghinis, Bugattis ou coisa do género. Estava no planeta Terra, em Setúbal, numa Quinta à noite na Luísa Todi.
Este é o grande segredo das motos. São o sonho de criança ao acesso de qualquer um. Um McLaren F1 de duas rodas pelo valor de um Kia Venga. Na minha garagem só ainda não está a VFR 400R branca, azul e vermelha, como a do poster que tinha na parede do quarto de miúdo (mesmo ao lado da foto do Ferrari 288 GTO) porque ainda não encontrei nenhuma à venda. Quanto ao GTO, talvez quando estiver noutro planeta.