Estava a ler que o Hamilton encomendou um Zonda R muito especial. O carro em si é já das coisas mais especiais que se podem encontrar assentes em quatro rodas, mas Hamilton queria algo mais, queria um com uma caixa manual. Disse ele a Horacio Pagani que patilhas atrás do volante era o que ele tinha usado desde que começou a conduzir. Para um carro especial, queria aquela sensação especial de sentir que realmente comandava a máquina... de andar com uma mão na regueifa e outra agarrada ao pau.
Um bom e velho amigo meu, tem na sua garagem um Ford T, um Austin Healey, um Isetta e um Land Rover Defender, para além das coisas do dia a dia. Sempre me contou a experiência que era conduzir um ícone como o Ford T, como o acto de condução exigia dádivas de concentração e de coordenação absolutamente invulgares, quando comparados com os dias de hoje. É um purista destas coisas da mecânica e dos automóveis, enchendo o peito sempre que fala de carros para homens e suspirando com as frescuras motorizadas de hoje em dia.
Ontem encontrei-o no café. Estava empolgadíssimo com a sua experiência automobilística do fim de semana. Tinha conduzido um 430 Scuderia, com caixa atrás do volante e todos os gadgets electrónicos dos Ferraris dos nossos dias. Parecia um miúdo de doze anos, excitadíssimo, delirante com as passagens de caixa, com o "manetino" e tudo o mais. Valeram mais aqueles poucos kms no moderno Cavalino Rampante, que muitos anos de clássicos do mundo automóvel. Em termos de condução, aqueles breves momentos valeram mesmo muito mais; e nunca mais uma coisa com volante sem nada por detrás e com uma maçaneta entre os bancos, será a mesma coisa.
O que se passou entre o condutor do Ford T e o do Ferrari 430 foi o mesmo que se passou aos que jogaram num Spectrum durante anos e de repente experimentamos uma Playstation. Não deixamos de sentir um carinho especial pelo "Manic Miner" ou pelo "Chuckie Egg", eventualmente até os revivemos uma vez ou outra no telemóvel, mas depois do "Call of Duty" ou do "PES" o mundo nunca mais é o mesmo.
Quanto ao Hamilton, a caixa manual no último dos Zondas é apenas um devaneio excêntrico, mais ou menos como jogar Need For Speed com um joystick Kempston.