Sunday, November 17, 2013

McRae, Colin




O rali de Inglaterra lembra-me sempre Colin McRae.

Todos nós temos os nossos favoritos, os que mais nos marcaram, mas o Colin era praticamente unânime, o mais popular entre os fãs dos ralis.

Normalmente no Mundial de Ralis não há a rivalidade da F1. Mesmo quem torcia pelo Sainz, conseguia aplaudir uma passagem do Colin e assumir que ele era especial.

Para mim, estarão sempre entre os eleitos o Vatanen e o Kankkunen, mas o Colin estava acima de tudo.

Nunca existiu quem dissesse tanto ao público e ele dizia tudo pela forma como conduzia. Nos anos 90 já se assistia ao evoluir do estilo de condução, que haveria de culminar no advento do Loeb, uma condução sempre com o carro muito certinho, sempre a andar para a frente. Veja-se por exemplo o Makkinen ou mesmo o Burns. Não queria dizer que o piloto não fosse numa batalha constante atrás do volante, o quê isso não era transmitido para o carro e como tal também não para o público.

Com o Colin tudo era diferente, se ele estava a lutar com o carro, então quem estava à beira da estrada percebia isso e se ele fosse em plena harmonia com o mesmo, como normalmente acontecia no RAC, nós também percebiamos isso, só de o ver passar.

Depois havia aquele tirocínio da vitória. A foto é do rali do Chipre, 2002, quando após domínio em toda prova, já no último dia, o Ford Focus capotou, levando a que perdesse a liderança para o Gronholm. Os mecânicos lá conseguiram amanhar a lata, por forma a acabar a prova, então num confortável segundo lugar. O Colin não fez nada disso, arrancou a fundo para ainda tentar apanhar o Gronholm e o primeiro lugar. O Ford acabou capotado novamente.

Colin McRae só corria para ganhar!

Sunday, November 10, 2013

Vinte anos depois




Passaram vinte anos, desde que assisti pela primeira vez ao vivo a um Portalegre.

Na altura a prova já era grande, a maior do género em Portugal e dizia-se que também na Europa. O Paulo Marques na CR250, o Bernardo Vilar na eterna XR, o Carlos Crespo na impressionante KX500 e os meus favoritos, os primos António e João Lopes, nas suas CR, ora 250 ora 500, dominavam as planícies alentejanas, na altura.

Eram 500 kms feitos a fundo e por altura da primeira zona de assistência, eu já estava decidido, tinha que fazer aquela prova. Não tinha moto, nem carta, nem tão pouco tinha alguma vez andado fora de estrada, mas algum dia tinha que ser e aquela era A Prova.

Passaram vinte anos entretanto e só há dois anos voltei a ver ao vivo a prova rainha do TT nacional. Lembrei-me então da promessa que tinha feito em 1993, ainda que continuasse pouco mais preparado, sem mota, sem experiência alguma, só tinha mesmo tirado a carta.

Comprar a moto foi o mais fácil. Aprender a andar no mato, na terra, sem aderência, pareceu-me já impossível, pelo pouco tempo e pelos anos de motos de estrada, pendurado nos travões e em largos pneus com a aderência de ventosas em vidro húmido.

Que se lixe, mesmo sem ser o Paulo Gonçalves, com mais ou menos dificuldade, substancialmente mais devagar, haveria de conseguir terminar.

Revisão feita na XR 400, pneus de acordo com os regulamentos, atrelado montado e lá fomos nós para o Alentejo.

Ainda na quinta-feira, assim que passei as verificações técnicas, já me sentia um vencedor. Ver a velhinha XR no parque fechado, ao lado de tão garbosa companhia como a Yamaha do Maio, ou a Suzuki do Patrão, deu-me aquele orgulho de missão cumprida, ainda sem um km percorrido.

Sexta de manhã cedo veio o prólogo e pensei, assim como os milhares que já se encontravam a ver, que de facto não fazia ideia nenhuma de como se conduzia uma moto na terra. O traçado era fantástico, o benevolente público aplaudia, apesar da evidente falta de jeito do piloto, a ribeira era pouco profunda e passei sem me molhar, acabei de punho enrolado, para não fazer má figura em frente aos amigos que estavam à espera na meta - pelo menos até a impressão da classificação, fui um herói. Acabei aqueles cinco kms com vontade de fazer 500 logo de seguida. Percebi em 5 kms o porquê da presença de tantos participantes, percebi a magia.

Durante estes últimos meses tentei treinar, mas nada me podia ter preparado para o que encontrei no dia de prova, nada, absolutamente nada. Distâncias inimagináveis a fundo, literalmente a fundo, entre vales e sobreiros, com a XR a cortar no red-line durante minutos a fio. Lama, pó, terreno lavrado, caminhos de terra, prados verdes, todo o tipo de terrenos numa só prova. E os ribeiros, ah os ribeiros, com milhares de pessoas a aplaudir, como se de uma corrida de toros se tratasse. Uns a apontar o melhor caminho, outros o pior, uns a ajudar outros somente a berrar, num frenesim de buracos, pedras e água pela altura do banco. Uma vitória a cada travessia.

Os pulsos, os braços e as costas já não aguentavam nem mais um metro, mas foi com pena que vi o final aproximar-se. Queria ali ficar mais outros tantos kms.

Terminar foi uma vitória e uma promessa de que para o ano lá estarei outra vez.

Passaram vinte anos desde que decidi fazer a Baja Portalegre, vinte anos a mais.