Lisboa-Dakar 2008: Obrigado sr. Bush, por esta e por outras

Lembro-me de etapas anuladas e desvios ao percurso original, mas não me lembro nunca de uma medida tão drástica como o cancelamento da prova, acontecimento de hoje no Lisboa-Dakar 2008.

Também não me lembro do preço do barril de petróleo e dos combustíveis ter estado alguma vez tão alto, nem do nosso modo de vida ter estado alguma vez tão ameaçado e inseguro.

À partida estes assuntos nada têm de relacionado, a não ser a sua origem.

O Dakar sempre foi ensombrado pelas disputas dos senhores da guerra e mais de uns quantos terroristas à procura de publicidade, mas nunca o perigo foi tão ameaçador como agora, pois como infelizmente muitos já perceberam as ameaças da Al Qaeda ou de qualquer uma das suas delegações, mesmo que na Mauritânia, são normalmente cumpridas com muito sangue derramado. A nova era do terrorismo chegou ao desporto.

Relativamente ao petróleo, para além do facto das reservas serem finitas, que ninguém tenha dúvidas que os especuladores aproveitaram o pretexto do conflito no Iraque e da insegurança noutras zonas de extracção para dispararem os preços de forma épica, muitas das vezes baseados apenas em rumores ou pseudo-ameaças. Novamente o terrorismo como génese de um dos maiores ataques encapotados ao modo de vida ocidental.

A origem destes acontecimentos, este clima de alerta constante e de criação de anti-corpos ao mundo ocidental começou com a política de guerra preventiva do sr. Bush. Graças ao perfeito idiota e às suas teorias de eliminar à lei da bala tudo o que eventualmente lhe pudesse enfiar o dedo no nariz, pulularam movimentos terroristas por esse planeta fora, estilo franchisings Al Qaeda, que têm vindo a impactar a vida mundial de forma profunda e certeira, ainda que muitas vezes indirecta.

O cancelamento do Dakar, a factura do combustível, os milhões gastos nos aeroportos com medidas de segurança ridículas, o ódio racial que ameaça separar o mundo entre os que seguem o Alcorão e os outros todos, mais tudo o que deriva da alteração do ténue equilíbrio em que a civilização se encontrava há menos de dez anos atrás, teve origem tão só no dia de eleição deste cromo texano.

Há quem diga que muitas das suas decisões são feitas com a melhor das intenções, pecando apenas pela ingenuidade e pela falta de conhecimento. Mesmo que assim seja, tal não o distingue de todos os outros bárbaros do século XX, que também tinham a melhor das intenções em todos os seus actos, diferindo apenas pelo facto de não sofrerem paragens cerebrais, como acontece com este megalómano contemporâneo.

O Dakar 2008 já lá vai, assim como muitas outras coisas muito mais fundamentais que dávamos como adquiridas até há um tempo atrás. Agora e para o futuro resta-nos reflectir para o dia em que outra vez, tenhamos de eleger alguém para nos governar, não cair-mos no mesmo erro dos crentes dos Americanos.