A Ferrari faz sempre melhor, às vezes até de mais.

No que diz respeito a super-carros, a Ferrari faz sempre melhor.
Olhemos para a nova moda de emagrecimento, em que se tira tudo o que não seja essencial à condução e se substitui tudo o resto por materiais mais leves que o ar, com o objectivo de se obter uma relação peso/potência em que o número de quilogramas seja igual ao de cavalos de potência. Mais ou menos como ter o Mike Tison no topo de forma, a acusar 50 Kg na balança.
Seguindo esta nova tendência do mercado, a Ferrari vai lançar o 430 Scuderia, que é como dizer que fez um 430 com bulimia - estou convencido de que se o dono de um destes carros decidir instalar um auto-rádio, o carro vomita-o de imediato.
Comparando o Porsche 911 GT2 (1440 Kg), o Gallardo Superleggera (1430 Kg) com o 430 vêmos logo que o Talon esteve a trabalhar em Maranello, acusando apenas 1250 kg na balança.
Mas o construtor transalpino não se fica pela balança e como sempre tem que estar na vanguarda, tendo para tal incluído uns quantos gadgets semelhantes aos dos F1 que hoje fizeram a dobradinha na Turquia. Traz uma caixa tão rápida que transforma a ejaculação precoce numa eternidade e um diferencial electrónico combinado com o controlo de tracção que permite transmitir os 510 Cvs de uma forma que parece que os pneus se fundiram com a estrada, ao invés de deslizarem sobre ela.
Não é difícil imaginar quem será o condutor este 430 bulimico ou o Gallardo anoréxico. O Lambo saírá do stand pelas mãos de um cantor de rap ou de uma loira burra armada em estrela de Hollywood, pelo simples facto de lhe acharem graça ao nome, ou porque a cor cinza combinada com a as aplicações em carbono vão bem com a vestimenta que vão levar logo à noite à "pool-party".
Com tanta tecnologia, o Ferrari será conduzido por um daqueles cromos que sabe de cor a velocidade máxima e a potência de todos os carros listados no final das revistas de automóveis, revistas essas que são a literatura fundamental e o seu tema de discussão nas concentrações de fim-de-semana.
Isto não tem mal nenhum, pois existem cada vez mais filhos de milionários que procuram num carro o mesmo número de funcionalidades de um telemóvel 3G. A gerência da FIAT agradece, pois a Ferrari, incrivelmente, é a única companhia do grupo que tem dado lucros consecutivamente nos últimos 10 anos.
Com tantos dispositivos da F1 o que se está a perder é a elegância que a marca sempre teve associada. Os "Steve McQueen" dos nossos tempos já não se trasnportam ao volante dos carros vermelhos, como acontecia antigamente.
Mesmo o 599 GTB, que por fora emociona como o 250 GT, extermina qualquer romantismo com aquele volante tipo árvore-de-natal, feito pelo pindérico do Schumacher, que antes de qualquer passagem de caixa acende uns LEDs vermelhos na cara do condutor.
Acredito que para terem sucesso, os carros vermelhos não têm que ser todos uns F1 de rodas cobertas.
Se olharmos para trás podemos ver que o GTO nada tinha de relacionado com o 156 "Sharknose" que ganhava corridas de F1 no início dos anos 60. O GTO tinha, como devem ter as obras primas automóveis, um motor V12 (três litros de capacidade) e o 156 montava um V6 (litro e meio de volume).
O fã da marca torcia na bancada do autódromo pela vitória no GP e depois seguia para beber um Martini no bar da marina, aos comandos do seu GTO.
Ao cruzar a marginal, ele não precisava que o seu carro tivesse alguma semelhança com o que tinha visto antes a cruzar a meta no primeiro lugar, pura e simplesmente porque conduzia um das mais fantásticas criações do homem, o GTO.