Assistindo ao saque
Estava a ler a crónica do MST no Expresso e a cada linha que lia mais incrédulo ficava, com uma situação de vandalismo puro do bem público, como é a entrega de uma parte da frente ribeirinha de Lisboa a um cais de contentores. Manóbras perfeitamente obscuras (para não dizer nada pior) entre governantes e interesses privados, com o objectivo absurdo de colocar o transporte de contentores no centro de uma cidade já de si caótica como Lisboa, leva-me a concluir que alguém ali está a lucrar e muito, sendo que não é certamente o cidadão, pois esse até vai ter que pagar 200 milhões de euros para que a Mota-Engil e o seu presidente Jorge Coelho tenham algum sucesso com a operação. A história é toda tão manhosa e surreal, mas tão bem aceite pelo poder local, que só me leva a concluir que se tamanha anormalidade se passa em Lisboa, a capital do país para onde todos os holofotes estão apontados, então o resto do país estará completamente a saque.
Mas o que é que isto tudo tem a ver com motores ou gasolina queimada?
A forma como assistimos calados a estes “pilha-galinhas” da margem do Tejo é em tudo semelhante ao que se passa na realidade do automobilista nacional.
O petróleo está abaixo dos oitenta dólares há mais de uma semana, mas as gasolineiras, aproveitando a atenção dada pela televisão aos jogos da selecção e à crise internacional, vão passando mais uns tempos a extorquir uns euros a mais a quem não tem alternativa senão abastecer sempre nos mesmos.
Enquanto isso governo apresenta um orçamento que continua a aumentar os impostos sobre quem tem carro e atira para as câmaras umas medidas para favorecer quem compre um carro eléctrico, que ainda não existe no mercado, logo não favorecendo ninguém.
No resto está tudo na mesma, compramos carros e pagamos imposto sobre imposto (IVA sobre IA), entramos nas auto-estradas sem informação de que estão em obras, levamos com os condicionamentos, reduzimos a velocidade, mas continuamos a pagar o preço por inteiro – dizem que esta situação está regulamentada por lei, mas para reclamar o reembolso da portagem o processo é tão complexo que devem para estar a abrir um curso de direito para formar advogados para este desiderato. Nas estradas nacionais temos a recém-criada empresa Estradas de Portugal, que o que fez no primeiro ano foi apresentar prejuízos, porque melhorias na rede viária alternativa às auto-estradas, nem vê-las. Para ajudar à festa temos os artistas da BT, que foram pioneiros a nível mundial ao adaptar as técnicas avançadas de guerrilha e operações especiais, ao serviço da caça à multa.
A tudo isto assistimos igualmente em silêncio, resignados, porque somos assim e deixamo-nos ir com o resto da carneirada ou então porque somos uns líricos e ainda acreditamos que instituições como a democracia funcionam por si só.
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